O artigo de Albélio Dias aborda a relevância do profissional de Facility Management em um processo de transformação digital em uma organização, e a importância da cultura nesse contexto, tendo o FM como um articulador junto as demais áreas, contribuindo assim para a geração de valor para todos os stakeholders.
No contexto atual se fala muito em transformação digital que, em muitos contextos, é confundida com digitalização das atividades ou dos processos organizacionais, mas transformar uma organização para a era digital, significa fazer uma transformação cultural, que é uma decisão estratégica da organização. Assim sendo, uma questão que surge naturalmente relacionada ao Profissional de Facility Manager (FM), ao seu papel nesse processo de transformação digital.
Mas, antes, conceituaremos o que é cultura organizacional. É preciso compreender que se trata de algo com alto grau de intangibilidade e de difícil entendimento, por requerer um bom nível de abstração para que se possa compreendê-la de forma adequada. Para John Chambers, ex executivo da cisco, “cultura, essencialmente, é a filosofia que define a missão, as prioridades e o modo de fazer as coisas na companhia”. Importante destacar que a Cisco sofreu com cinco crises econômicas e sobreviveu a elas devido a ter uma cultura bastante flexível, se adaptava a cada contexto econômico.
Outro ponto importante, é compreender o significado da transformação digital que para alguns estudiosos é a nova revolução industrial. Na história tivemos algumas “revoluções” que podem ser assim classificadas:
- Primeira revolução industrial – Máquinas a vapor e industrialização.
- Segunda revolução industrial – Eletricidade, urbanização e comunicação, produção em massa.
- Terceira revolução industrial – Eletrônica, informatização e automação.
- Quarta revolução industrial – Diluição das fronteiras entre o digital, físico e biológico.
Já se percebe que a atividade de Facility Manager vem passando por transformações ao longo de décadas, nesse contexto de “revoluções”.
Com relação a Quarta Revolução Industrial – que de certa forma para efeito de estudo pode ser ancorada em quatro grande “pilares”, quais sejam:
- Tecnologia – Realidade Virtual e Realidade Aumentada, Impressão 3D, Blockchain, Internet das coisas, Redes Sociais, Computação Cognitiva, Drones, Big Data, Mobilidade, Genotipagem, Nuvem.
- Demográfica – Colaboração, Velocidade, Nova geração de nativos digitais, Cultura de inovação, Cultura maker, Customização, Liberdade, Integridade, Refratárias à propaganda tradicional.
- Conglomerados digitais – Alphabet, Apple, Agregadores de serviços: Airbnb, Uber, Google, Amazon.
- Economia – Novas relações de exigência quanto à competitividade, Um mundo de startups, A era da indústria chega ao fim, Indústria 4.0.
Toda essa ancoragem soma-se ao Mundo VUCA – Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo, assim caracterizado:
- Volátil – alta velocidade e a intensidade das forças que impulsionam as mudanças.
- Incerto – alta imprevisibilidade.
- Complexo – muitos fatores estão envolvidos em qualquer transformação.
- Ambíguo – diferentes pontos de vista para entender e analisar os fatos.
Este é o cenário que estamos envolvidos, tanto no que diz respeito ao ambiente dos negócios como da vida pessoal, que vão se entrelaçando cada vez.
Retomando a questão colocada no início do artigo, com relação ao papel do FM nesse cenário de transformação do mundo analógico para o digital, requer o entendimento das tecnologias exponenciais anteriormente mencionadas e sua relevância estratégica para geração de valor para todos os stakeholders. É sabido que o processo de transformação cultura começa pela liderança da organização, que é o principal fiador de todo o processo. Nesse contexto, a área de FM deve estar no staff da organização, assim como está o CDO (Chief Digital Officer) antigo CIO (Chief Information Officer) que ficava restrito a tecnologia, sem uma visão estratégica do negócio da organização. Hoje, o CDO tem que entender o negócio da organização e propor novas tecnologias que contribuam para ganhos de competitividade do negócio numa visão mais estratégica de mercado.
Da mesma forma, o profissional de FM deve entender o negócio da organização e propor estratégias consistentes com o processo de transformação digital dentro de seu espectro de atuação. As competências do FM de acordo com IFMA (International Facility Management Association), e aqui citaremos apenas algumas para reforçar nossa tese da relevância do FM para a estratégia de negócio de uma organização, quais sejam: comunicação, planejamento estratégico e liderança, fatores humanos e tecnologia. Essas competências exigem do profissional de FM uma capacidade de articulação e de comunicação com as demais áreas da organização, principalmente, com as de recursos humanos e tecnologia.
Por suas competências citadas anteriormente, é notório que um profissional de FM deve estar continuamente aprendendo, ou seja, seu mindset deve ser de aprendizagem – tema abordado no livro Mindset de Carol Dweck que diferencia dois tipos de pessoas, as de mindset fixo – pessoas resistente ao aprendizado e a mudanças; e pessoas de mindset de aprendizado, que buscam continuamente novos conhecimentos e cujas dificuldades, e até mesmo fracassos, são transformados em aprendizagem.
Considere agora a definição de FM proposta pela ISO 41011/2017 – que diz: “Função organizacional que integra pessoas, locais e processos dentro de um ambiente construído com o propósito de melhorar a qualidade de vida das pessoas, ampliar a produtividade do negócio da empresa e dos serviços internos.”
A definição de FM proposta pela ISO 41011/2017 reforça a importância do profissional de FM para a estratégia de negócio da organização que, por sua vez, devem estar alinhadas aos processos que são executados por pessoas, máquinas, ou pessoas e máquinas juntas.
Mas, o que significa transformação digital na prática? Transformação digital é uma forma que o mercado encontrou para dizer as empresas que precisam estar continuamente inovando para sobreviverem no mundo VUCA já comentado. E esse processo de inovação contínua requer um ambiente com profissionais de mindset de aprendizado, para que possam adquirir conhecimentos das tecnologias exponenciais e de como utilizá-las para a rentabilidade do negócio da organização.
Não está argumento aqui que o profissional de FM seja um super-homem, que somente ele deve ter todas as qualificações discutidas neste artigo. Ele soma-se aos demais executivos que devem estar no mesmo nível de conhecimento, para que possam pensar estrategicamente o negócio da organização, de forma sistêmica.
Outro ponto importante que se deve começar a pensar é como antecipar ameaças ou oportunidades para que a organização atinja os objetivos estratégicos. Isso tornou-se uma necessidade face ao mundo VUCA que é o atual cenário para os negócio. A expressão que vem ganhando força é a prospectiva estratégica por se tratar de uma metodologia eficaz para a compreensão do futuro e definições de rumos e estratégias organizacionais. Esse, a meu ver, é mais um desafios para todos os profissionais, quer sejam de FM ou não, em ambientes complexos, incertos, ambíguos e voláteis.
Albélio Dias é mestre em Administração de Empresa, pós-graduação em Matemática e Educação tecnológica, graduação em matemática. Professor de programas em MBA de várias Instituições de Ensino Superior em Belo Horizonte. Cursos abertos na HSM University, estudante de futurismo na W Future School. Membro fundador da REFAC (Rede de Profissionais de Facilities), Síndico Profissional e Diretor executivo da AgereSíndico e AgereFacilities.
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