O termo ESG, que é uma sigla para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português) surgiu em 2004, em uma publicação do Banco Mundial em parceria com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e instituições financeiras de 9 (nove) países, chamada “Who Cares Wins” (Ganha quem se importa, em português), e é um documento resultante de uma provocação do, à época, secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a 50 CEOs de grandes instituições financeiras do mundo com intuito de instigar os bancos sobre como integrar os fatores ESG ao mercado de capitais.
Certo é que o surgimento do ESG é bem mais recente que o do Facility Management, esse datado da década de 60, quando foi utilizado primeiramente para descrever o crescimento de práticas de terceirização de serviços bancários, responsáveis pelo processamento de cartões de créditos e outras transações.
Mais novo que ambos, apenas a correlação do FM com o ESG, que cresceu impulsionada pelo período de pandemia, onde o Facility Management precisou se transformar e buscar ferramentas e formas de gestão diferentes. A relação com os colaboradores, sejam orgânicos ou terceiros, precisou ser aproximada, tendo em vista todas as restrições e cuidados impostos. A atenção já existente com descartes, resíduos e demais processos relacionados ao meio ambiente foi redobrada, e claro, além do poder de negociação, foi necessária a criação de vantagens competitivas para conseguir diferencial na prestação de serviços no mercado.
O que ferramentas de gestão, relações com colaboradores e cuidados com resíduos, que foram apenas alguns exemplos citados, dentre tantos outros existentes, têm a ver com ESG? Absolutamente tudo!
Sendo assim, vamos falar de cada pilar, das ações e mudanças percebidas nos profissionais e nas prestações de serviços, e também das oportunidades que existem para o profissional em FM.
A começar pelo pilar de governança, onde encontramos mais fortemente os contratos e os indicadores de FM, já muito relevantes e definidos na grande maioria das relações de Facility Management existentes. Mais do que a clareza através de evidências e do controle dos indicadores, passou-se a cobrar também o quanto determinado fornecedor ou prestador de serviço encontrava-se alinhado com as melhores práticas de responsabilidade socioambiental. Empresas que não possuíam certificações, que não se mostravam adequadas e aptas a prestarem o serviço dentro dos critérios determinados, foram reduzidas e praticamente eliminadas do mercado, e as que já caminhavam a frente nessa questão e que se mostraram praticamente prontas, precisaram reforçar ainda mais o controle dessas exigências nos produtos e serviços oferecidos.
Cabe destacar também a oportunidade de fazer dessa governança de indicadores um diferencial de mercado, visto que esse “cruzamento” de indicadores de FM com as questões socioambientais ainda é algo inexplorado pelos profissionais e prestadores de serviços de FM. Importante mostrar como os resultados impactam positivamente esses fatores, criando até mesmo possíveis novos indicadores que, se bem trabalhados, certamente irão gerar impacto bastante positivo. Também é uma importante oportunidade o estabelecimento de uma política socioambiental sólida, que possa nortear e servir como principal documento para garantir que as ações relacionadas, que serão propostas e implantadas, seguirão os melhores princípios nas questões sociais e ambientais.
No pilar social, destaco principalmente a prestação de serviços de terceiros, antes, de maneira geral, deixada para segundo plano, e que teve a oportunidade de se tornar mais aproximada pela necessidade de não interromper a prestação dos serviços oferecidos, mas, para isso, fornecer as melhores condições, possíveis e necessárias, para que os prestadores pudessem seguir suas atribuições, minimizando possíveis riscos à saúde.
Mais do que o fornecimento dos EPIs, melhores condições de transporte, deslocamento e horários adaptados, o entendimento sobre a rotina do prestador se fez necessário e foi aprofundado nessa relação, para que as melhores ações pudessem ser tomadas, considerando as necessidades evidenciadas.
Uma oportunidade clara no âmbito social é a transformação dos benefícios, antes “proforma” quando olhávamos para terceiros, em atrativos para os prestadores. É possível fazer isso inserindo benefícios flexíveis, de cuidado com a saúde física e mental, que antes eram longínquos para esse setor, mas que com a valorização do ESG pelas grandes companhias, pode se tornar fator atrativo no momento da contratação do serviço terceirizado, visto o entendimento do nível de maturidade do tema em uma empresa que adota esse tipo de prática.
Vale também uma atenção a questão de diversidade e inclusão nas equipes terceiras, muitas vezes desconsiderada, mas que certamente estará sob holofotes no momento da contração do serviço, devido a amplitude e relevância do debate desse tema na grande maioria das empresas hoje em dia.
Aqui, trago um ponto importante, especificamente sobre o home office ou até mesmo o modelo híbrido, adotados por diversas empresas.
Sabe-se que grande parte dos serviços de Facility possuem a necessidade presencial, contudo, surgiram também diversos adventos, ferramentas e tecnologias que possibilitaram uma entrega com maior qualidade, gerando maiores “outputs” para as partes, que podem ser implementadas para a minimização de custos com equipes físicas, trazendo isso para um viés de investimento em diferencial na prestação de serviço através de novas tecnologias. Afinal, quem não quer ter acesso as novidades tecnológicas e, de quebra, obter informações que antes, sem o uso de tecnologias, eram extremamente difíceis ou até mesmo impossíveis de serem obtidas?
Por último, mas não menos importante, o pilar ambiental. É bem comum que as empresas, bem como a sociedade, ainda enxerguem as questões ambientais distantes. O ponto positivo é que isso tem diminuído, muito porque os eventos climáticos, que infelizmente tem se tornado recorrentes, tem servido de alerta visível e sensível, através de deslizamentos, enchentes e demais desastres intensificados pelas mudanças climáticas, que tem no fator humano, de maneira comprovada cientificamente, o principal responsável pelo descontrole e agravamento.
E como o profissional de FM pode contribuir com as questões climáticas e de meio ambiente? São diversas as ações possíveis.
Primeiramente, a área de FM é normalmente responsável pelo maior “headcount” das empresas, o que por si só facilita com que as ações implementadas gerem maior impacto e que a cultura possa ser mais amplamente difundida e alcance mais espaços e áreas. Sendo assim, já é possível ver empresas trabalhando em ações mais simples, como a troca de descartáveis nos escritórios, fornecendo copos sustentáveis, ou a implantação de coletores seletivos, com lixeiras diferenciadas por cores, facilitando o recolhimento e devida destinação do material, e gerando um impacto bastante significativo.
Ressaltaria a importância de pensar no conceito de energia limpa de uma maneira mais ampla, acessível e possível de ser implantada nas empresas. Hoje, o fator energia elétrica é um dos principais vilões quando pensamos em emissões de GEE (gases de efeito estufa), junto a questão de transportes. Ainda na questão de energia elétrica, uma ação mais simples mas bastante relevante, dependendo da amplitude do local, é a busca pela utilização de luminárias de LED, que geram economia bastante significante.
Traria por último (e aqui mais uma vez a tecnologia como aliada) a oportunidade de inserir na prestação de serviços equipamentos mais eficientes, com tecnologias mais alinhadas com as melhores práticas ambientais, ou seja, com menores emissões de GEE e, por consequência, menos agressivos ao meio ambiente e ao clima.
Sabemos que esses movimentos não são fáceis, podem esbarrar em concorrências com valores impraticáveis, em profissionais que não tem a preocupação com esses pilares na sua gestão, mas é importante ressaltar que, quem começa a se movimentar de agora, buscando aprofundamento no tema, se coloca na frente de muitas empresas e profissionais.
O modelo “não-sustentável” de fazer FM está com os dias contados. É um fato.
Tenham certeza de que as empresas que hoje ainda prezam apenas pelo fator financeiro, muito em breve, se verão praticamente obrigadas a inserir no seu escopo as melhores práticas de ESG e sustentabilidade, e isso certamente virá a frente do custo, pois a demanda e o direcionamento do mercado e da sociedade como um todo é quem tem dado o direcionamento para as empresas nos mais diversos nichos, e para a área e os profissionais de FM não seria diferente.
O tema é certamente amplo. Pode, deve e certamente ainda será mais esmiuçado, detalhado e debatido, mas o principal objetivo aqui é deixar claro que a correlação de FM com ESG não é mais uma utopia ou algo distante, e sim uma realidade “batendo a porta” de quem vive o Facility Management, seja da maneira que for.
Diego Carbonell
Administrador, pós-graduado em Controladoria Auditoria e Compliance, com MBA em Facility Management. Coordenador Adjunto da Comissão Especial de Sustentabilidade do CRA-RJ. Coordenador do GT de Mudanças Climáticas da Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (ABRAPS). Membro convidado da Comissão de Sustentabilidade Ambiental do CRC-RJ. Especialista em ESG na Dock, onde é responsável por projetos nos pilares ambiental e de governança.