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Há muitos anos interadido profissionalmente com executivos, principalmente CIOs (Chief Information Officers), de muitas organizações. Essa interação deixou claro para mim que o conceito da transformação digital está ganhando substância. Os executivos estão cada vez mais envolvidos, e conscientes que o futuro e a vantagem competitiva das suas empresas estão na digitalização de seus negócios. Já entendem que ficar para trás nesta corrida é perder competitividade e, pior, colocar em risco a sua própria sobrevivência empresarial. Já percebem que a transformação digital não é um fim em si mesmo, mas apenas o fundamento, o pilar para algo maior, a transformação dos negócios na era digital. Estas transformações sim, serão dramáticas e virarão os negócios atuais de ponta cabeça.

Por que isso? Simplesmente porque estamos vivenciando transformações cada vez mais rápidas e de maior amplitude. Um rápido olhar ao passado recente mostra quão impressionante é o ritmo das mudanças. Em 1995, há apenas 20 anos, éramos 35 milhões de navegantes na Internet mundial. Hoje somos quase três bilhões, cerca de 40% da população mundial; 80 milhões usavam celulares, hoje três em cada quatro pessoas do mundo tem um, ou mais de 5,2 bilhões.

As mudanças não vão parar por aqui. Se pensarmos que em dez anos teremos pelo menos sete gerações da Lei de Moore, potencialmente teremos um aumento de 128 vezes na capacidade computacional. Para termos uma percepção melhor, 128 significa 2 multiplicado por ele mesmo 7 vezes. Imaginem isso em um smartphone no nosso bolso. Ou um relógio inteligente pelo menos cinco vezes mais potente que o mais poderoso smartphone atual, custando cinco vezes menos que os preços atuais? Pois é, estas evoluções estarão em todas as tecnologias como Impressoras 3D, drones, sensores, smartphones, algoritmos, etc. Coletivamente, estas evoluções tecnológicas serão a base para profundas transformações nos negócios.

A jornada da transformação digital está desafiando e criando rupturas em todos os setores de indústria, criando novos modelos de negócio e novas maneiras de fazer uma empresa operar. Mas, a evolução exponencial da tecnologia e seus impactos não consegue ser absorvida em uma organização tradicional, que pensa linearmente. É fato que muitas organizações, grandes e matriciais, respondem lentamente às mudanças no cenário tecnológico. O mundo exponencial demanda novo tipo de organização, que chamamos de organizações exponenciais ou ExOs (Exponential Organizations).

Ao contrário das organizações atuais, uma ExO mantém apenas um pequeno grupo de funcionários e usa intensamente tecnologias avançadas e recursos externos. Consegue com isso mudanças rápidas. Em grande número de setores de indústria as ExOs vão substituir inevitavelmente as empresas dominantes hoje. Recomendo ler “Exponential Organizations, de Salim Ismail e Yuri van Geest, que aborda em detalhes o que são estas ExOs.

De maneira geral vemos muitos artigos mostrando como as novas corporações, como as empresas pós-Internet, interagem com o mundo exterior, com seus clientes e ecossistema. Mas, como as empresas atuais podem se transformar em uma ExO? Suas estruturas organizacionais, cultura e mindset foram construídos e solidificados em dezenas (algumas centenas) de anos de sucesso.

O primeiro passo, é claro, uma visão executiva da necessidade imperiosa de mudar. A mudança não é simples. Passa por reestruturação organizacional, destruição de processos atuais e criação de outros. Provavelmente também pela mudança nos modelos de negócio. Um exemplo foi a citação do CEO global da GM no ultimo CES, quando disse, no anuncio de um investimento de 500 milhões de dólares no Lyft, concorrente do Uber: “We see the future of personal mobility as connected, seamless and autonomous”. As montadoras passando de fábricas a empresas de mobilidade pessoal. Uma análise mais aprofundada desta mudança revela que ela afetará dramaticamente todo o ecossistema da indústria automotiva atual.

A automação dos processos internos também é um fator essencial para a empresa ser ágil. Para gerenciar a App Store, que hoje tem cerca de 1,5 milhão de apps, somando mais de 100 bilhões de downloads, a Apple mantém um board editorial que analisa, aprova ou rejeita apps. Usa também recomendações de outros funcionários da empresa e anuncia mudanças em suas políticas nos seus eventos WWDC. Para sustentar o volume desta operação usa sofisticados algoritmos para identificar quais apps serão destacados na home page. Automação e crowdsourcing estão no coração da operação.

Outro aspecto fundamental de uma organização exponencial é a gestão do negócio em tempo real. Analisar resultados dois meses após o fechamento dos números e baseados apenas em planilhas, jamais dará velocidade adequada de reposta. Na velocidade das transformações atuais, a melhor analogia é a que ouvi de um piloto de jato comercial: “na cabine, você não vê, viu”. Pasmem, muitas empresas não utilizam dashboards de gestão para os executivos. Analisam resultados em planilhas com dados de um ou dois meses atrás e tentam extrapolar o futuro com base nestes dados. Em tempos de turbulência, a chance de dar certo é sensivelmente baixa.

Uma sugestão é rever os métodos de gestão e adotar modelos mais ágeis. Vale a pena pensar no método OKRObjectives and Key Results, uma metodologia para definição de metas criada pela Intel e adotada pelo Google em 1999, quando a empresa tinha menos de 1 ano. Desde então os OKRs foram adotados por muitas outras empresas como Linkedin, Facebook, Twitter, Zynga, Oracle, etc. Recomendo a leitura do livro “High Output Management”, escrito por Andy Grove, ex-chairman e ex-CEo da Intel, que mostra em detalhes como adotar o método. É um modelo ágil e que permite crescimento exponencial, sem burocracia.

Basicamente, o método OKR responde a 2 questões: Onde queremos chegar (que são os objetivos), e como chegaremos lá (os key results, que garantem que estamos fazendo progresso na direção certa). Os objetivos (geralmente uns 4 a 5) são qualitativos, e refletem o sonho da empresa. Para cada objetivo deve-se ter uns 4 ou 5 key results, que mostrem como as coisas estão indo. Eles devem medir o avanço por dia, semana e mês. O uso de OKR (baseado em técnicas de gamificação, com objetivos a serem alcançados e respectivos prêmios) e de feedback contínuo, gera á um dashboard de controle dinâmico e transparente.

Outra mudança são as experimenta&ccedi
l;ões. As empresas tradicionais tendem ser avessas às experimentações, sendo pouco receptivas a riscos. Em muitas organizações, o setor de TI prima pelo conservadorismo. Reluta na aceitação de cloud, considera mobilidade uma ou outra app para uma função periférica e Analytics, o futuro… O trem já está saindo da estação a TI ainda está arrumando a mala.

Uma frase do Mark Zuckerberger, do Facebook, denota uma visão diferente: ”The biggest risk is not taking any risk”. Como inspiração sugiro dar uma olhada na iniciativa da Adobe, que pode ser lida neste artigo da Forbes “The Innovation Game: Adobe’s New Strides To Keep Employees Engaged”.

Por fim, é fundamental tornar a organização mais leve e menos pesada. O conceito de “Lean Startup“ pode e deve ser considerada na revisão de todos os processos internos. Muitos processos foram concebidos há décadas e poucos se modernizaram. Muitos ainda usam conceitos e tecnologias de mais de dez anos e neste tempo mais camadas de tarefas foram adicionadas, e nada foi eliminado! Adotar conceitos “lean” não é característica exclusiva para startups. Recomendo enfaticamente ler o livro “The Innovator’s Method: Bringing the Lean Start-up into YourOrganization”, de Nathan R. Furr e Jeffrey H. Dyer. Tornar uma empresa atual “lean” não é, em absoluto, uma tarefa apenas para Tom Cruise e suas missões impossíveis.

Outros aspectos devem ser considerados. Primeiro, o emponderamento dos clientes e funcionários não pode ser deixado de lado. Eles têm acesso às  tecnologias de ponta, por conta própria e usam apps e outras funcionalidades no seu dia a dia. Usam seus smartphones para obter qualquer informação em tempo real, como fazer comparações de preços. Usam e abusam de apps de desconto em tudo, como viagens, restaurantes e casas noturnas. Já não levam mais rasteira de taxistas mal-intencionados, pois consultam seus trajetos no Waze ou Google Maps.

O mundo digital permite que o indivíduo faça praticamente tudo sozinho, desde comprar passagem aérea e fazer seu check-in, até uma transação financeira. Compreender este emponderamento é crucial para uma estratégia digital bem sucedida. A interação do cliente torna-se cada vez mais automatizada. Neste processo, as interfaces do meio digital com o meio físico acabam criando atritos que afetam a experiência da interação do cliente com a empresa. Entretanto, muitas empresas nem acordaram para este contexto, deixando passar ao largo esta mudança. Outro trem que já está saindo da estação.

O uso das mídias sociais, que é hoje um meio natural de comunicação interpessoal, é outro ponto de atenção. Muitas empresas não sabem ainda usar este potencial, limitando-se a criar páginas no Facebook. Usar mídias sociais só tem sentido quando esse uso pode ser aplicado à fórmula mídia social = conexão + engajamento + confiança + transparência.

E, finalmente, a estrutura organizacional. Modelos hierárquicos e matriciais geram desgaste nos processos, aumentam a lentidão das respostas e não permitem que a empresa mude com facilidade. Engessam a organização e não incentivam os talentos desperdiçados pela organização. Vale a pena ler o artigo da HBR “ The New Organization Model: Learning at Scale”. Quem sabe um novo modelo, como a holocracia, não vehna a ser o modelo organizacional dominante no século 21? Sugiro entender um pouco mais do assunto emhttp://www.holacracy.org/how-it-works.

Portanto, há muito trabalho pela frente. Se a empresa quer ser uma vencedora (ou sobreviver!) na era das transformações exponenciais, não pode ficar parada esperando que o futuro chegue. Tem que criar este futuro a partir de hoje.

 

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