No Brasil, o universo de startups segue em acelerado crescimento e os conceitos e práticas relacionados a esse meio vão se disseminando entre aqueles que formam esse ecossistema, ainda que haja muito conhecimento baseado no que acontece fora do Brasil (EUA, especialmente).
Aos poucos, vai-se notando que há diferenças entre os mercados e que as “ondas” podem ser outras no nosso “oceano”. Algumas delas são a taxa de juros (1,75% a.a. nos EUA e 13,25% aa. no Brasil) e a porção da população que investe em renda variável (65% nos EUA e 2% no Brasil). Isso faz com que haja um impulso de investimento em produção nos EUA que não há aqui, o que representa uma enorme diferença de disponibilidade de capital entre os dois países. De acordo com dados da CB Insights, 546 empresas se tornaram unicórnios(1) em todo o mundo em 2021, representando um aumento de 496% em relação a 2020. No Brasil, foram 10 (1,8% do total).
Por essa razão, a forma de se tracionar uma startup no Brasil é diferente. Dando um passo atrás, vamos definir as fases de uma startup: Ideação, Operação, Tração e Scale-up. A tração é a fase em que o objetivo maior é o crescimento. Para isso, rodadas de investimento e aportes são muito bem-vindos. Como o que as startups buscam é atender demandas que tenham escala e como procuram isso de forma acelerada (o objetivo final é um evento de liquidez – M&A ou IPO), acabam por demandar soluções tecnológicas mesmo que a natureza de seu negócio não seja tecnologia. As startups brasileiras, dado nosso contexto sócio-econômico, nasceram sem investimento e precisam tracionar seu modelo de negócio para não fecharem. Elas aprendem, pela observação das experiências anteriores de outras startups, a melhorar seu próprio negócio e adaptam-se facilmente a diferentes condições.
Dentro das definições de tipos/nichos de empresas de tecnologia (“techs”), as relacionadas a Facility e Property Management se enquadram no universo das Proptechs dentro da categoria Gestão de Propriedade (veja quadro a seguir).
Nesse universo diverso, mas, ainda assim, com capital para investimento disponível, observamos um grande crescimento no ambiente de startups no Brasil. Em 2021, foram registradas 824 rodadas de investimento (+45% sobre de 2020) e cerca de US$9,8 bi (+188%), um crescimento recorde em nosso país que se destacou em crescimento no cenário global.
Isso não poderia deixar de despertar interesse sobre o universo de Facility e Property Management que começa a assistir a formação de empresas focadas em atender esse mercado. Porém, observando-se o perfil das proptechs, nota-se que a maioria esmagadora está focada em atender dores do mercado imobiliário, o que mostra como ainda estamos engatinhando na solução das demandas de Facility e Property Management através de soluções tecnológicas.
O papel estratégico que as áreas de Facilities Management e de Gestão de Propriedades têm em suas empresas já é de conhecimento de todos os que conhecem minimamente esses mercados. Adicionalmente, vivemos um momento de aumento da complexidade da gestão diante da necessidade de se lidar com temas como trabalho remoto/híbrido/presencial, atendimento a exigências das questões ligadas a ESG e servir a diversas gerações. Com base nisso, entendo que as ações para a garantia de boa performance dos gestores passarão pelo desenvolvimento de soft skills associado ao uso de tecnologia.
Portanto, fica aqui o estímulo às entidades, empreendedores e gestores para que, juntos, desenvolvam um ecossistema brasileiro de inovação focado em Facility e Property Management e podem contar comigo.
(1) Unicórnios: empresas avaliadas em, no mínimo, US$1 bi antes de abrir seu capital em bolsas de valores, ou seja, antes de realizar o IPO (Initial Public Offering)
Referências:
https://abstartups.com.br/fases-de-uma-startup-saiba-tudo-sobre-cada-etapa/; https://fastcompanybrasil.com/news/o-que-e-a-startup-vira-lata-caramelo/;
https://distrito.me/startups/
Álvaro Aguiar
Cofundador e CEO da ARO, plataforma de gestão estratégica de Facilities e Properties (Consultoria + Software + Cogestão). Atuou 25+ anos em Corporate Real Estate (Facilities, Projetos & Obras e Gestão de Imóveis) em empresas como Globo, Google e AC Camargo Câncer Center. É cofundador com participações em algumas gestões da ABRAFAC. Engenheiro civil, com Mestrado em Arquitetura, MBA executivo, além de pós-graduações em Marketing, Gestão Empresarial, Corporate Real Estate e Ar Condicionado.