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Publicado em 30 de julho de 2019

O artigo de Albélio Dias aborda a sustentabilidade e a gestão de um condomínio comercial e faz uma correlação com as ferramentas da administração, que podem ser utilizadas de forma eficiente desde que se faça a leitura correta no contexto de um condomínio, o que possibilita incorporar a sustentabilidade em seus processos de gestão.

Albélio Dias

A palavra sustentabilidade esteve quase sempre ligada às questões ambientais e pouco relacionadas com a estratégia de negócios das empresas, mas antes desenvolviam ações de responsabilidade social que tinham pouca relação com os negócios, mas eram importantes para a imagem institucional. Aos poucos foi se criando uma consciência do papel social das empresas, que não deve ser paltada apenas para o lucro, mas que pode contribuir para o bem-estar da humanidade, com produtos que não causem grandes externalidades ou consequências nocivas ao meio ambiente e a sociedade.

Pensar de forma estratégica a sustentabilidade, ou como incorporar a sustentabilidade na estratégia de negócio, parecia algo de grande complexidade, que não tinha nenhuma relação com core business da empresa. Tal forma de pensar começou a ser mudada quando as empresas passaram a compreender melhor a equivalência de que uma empresa influencia seu ambiente e por ele é influenciado.

No começo deste século, a sociedade foi percebendo e compreendendo que a forma como as empresas produzem teriam que ser mudada, bem como a forma de consumo. Isso tudo está dentro de um modelo econômico que foi se consolidando desde a primeira revolução industrial, em que o objetivo era a produção em grande escala, com os métodos de gestão sendo desenvolvido, como o taylorismo, que trouxe muita eficiência aos processos de produção, o que culmina com o surgimento da administração e de grandes pensadores que contribuíram enormemente para o desenvolvimento das organizações, sem nenhuma preocupação com as questões ambientais e sociais.

Ao perceberem a mudança de comportamento da sociedade, com relação às questões sociais e ambientais, as empresas começaram a se preocupar com seus processos produtivos de negócio. Grandes empresas iniciaram no início deste século uma grande transformação em seus processos de produção e de gestão ao perceberem esse movimento da sociedade e o alto passivo ambiental acumulado. Passaram a conceber produtos sustentáveis em seu portfólio de negócio, investindo pesadamente em inovação e, paralelamente, trabalhavam a mudança cultural, de forma a implantar estratégias de negócio sustentáveis.

No atual contexto, mas não de forma consolidada, há uma preocupação das empresas com a sustentabilidade, ao perceberem que é um grande negócio. Como exemplos, podem-se citar a eficiência energética, que reduz o custo de energia de forma significativa; o reuso da água por meio de pequenas estações de tratamento de água (ETA), que também contribui para a redução de custo, que de certa forma aumentam o caixa da empresa para possíveis investimentos.

Uma questão pode aqui ser colocada: o que um condomínio comercial tem a ver com toda essa discussão? É preciso compreender que um condomínio comercial é uma empresa, tão complexa, quanto uma empresa nos modelos que se conhece, apesar de serem diferentes quanto a objetivos e resultados. As questões que envolve a sustentabilidade também são muito semelhantes, como a eficiência energética e reuso de água.

A cadeia produtiva da construção é uma das que contribuem significativamente para o aumento de dióxido de carbono (CO2), daí a importância de um empreendimento ser construído de forma sustentável desde as fases de concepção, projeto e execução. Mas, qual a relação entre sustentabilidade e negócio dentro de um condomínio, visto que existem vários negócios diferentes, em diversos setores econômicos? Um condomínio é dividido legalmente em duas áreas: uma privativa (salas e lojas comerciais) e outra comum de uso coletivo.

Fazer a integração entre as áreas privativa e comum é um grande desafio para a administração no tocante a sustentabilidade. Geralmente as certificações como AQUA-HQE e LEED, por exemplo, são conquistadas pela área comum de um empreendimento, sem o envolvimento da área privativa, o que pode ser a origem do problema no tocante a dificuldade em envolver a unidade privativa para importância de também serem sustentáveis.

Nesse contexto, enfrenta-se também problemas relacionados com a comunicação, especificamente sobre o que comunicar e como comunicar a sustentabilidade para a área privativa. A sustentabilidade não pode ser algo de difícil compreensão, apesar de exigir uma forma de pensar diferente do usual, ou seja, é preciso uma visão sistêmica da sustentabilidade, que não é objeto do presente artigo.

Outra questão importante a ser mencionada é que para a gestão de um condomínio ser eficiente e incorpore a sustentabilidade, é necessário definir um propósito e diretrizes estratégicas (missão, visão e valores), pois eles que guiarão todas as ações e processos da operação acoplados a um conjunto de indicadores, que possam aferir os resultados decorrentes do plano estratégico, que deve ser comunicado a todos os parceiros ou as empresas terceirizadas envolvidas na operação do empreendimento.

O importante na aplicação das ferramentas da administração é fazer a leitura no contexto do empreendimento, pois uma empresa e um condomínio são diferentes apesar de algumas similaridades. De forma simplificada podemos dizer que: administrar significa planejar algo, controlar e dirigir os recursos humanos, materiais e financeiros, enquanto a gestão tem como princípios fundamentais incentivar a participação, estimular a autonomia e a responsabilidade dos funcionários. Como se vê esses princípios se aplicam tanto às empresas como aos condomínio.

Um desafio já percebido é juntar os princípios da administração, da gestão e da sustentabilidade num pacote só de gestão sustentável. É nesse ponto que o síndico precisa ter a visão de um profissional de facilities, que dentre suas competências, e aqui citaremos algumas, de acordo com o IFMA (International Facility Management Association): comunicação, sustentabilidade e responsabilidade social, planejamento estratégico e liderança.

Nesse contexto vale a pena mencionar a definição de Facility Management de acordo com a ABRAFAC que define FM como sendo uma “atividade profissional que abrange várias disciplinas para garantir eficazmente a funcionalidade de ambientes construídos através da integração de pessoas, lugares, processos e tecnologia.”

Portanto, assim como uma empresa, elabora sua estratégia tendo a sustentabilidade no centro de seu negócio, um condomínio de forma similar também elabora suas estratégias com foco na sustentabilidade, para que as empresas instaladas possam usufruir desse ambiente com ganhos de produtividade, haja visto que as pessoas num ambiente sustentável tem maior produtividade e melhor qualidade de vida.


Albélio Dias é mestre em Administração de Empresa, pós-graduação em Matemática e Educação tecnológica, graduação em matemática. Professor de programas em MBA de várias Instituições de Ensino Superior em Belo Horizonte. Cursos abertos na HSM University, estudante de futurismo na W Future School. Membro fundador da REFC (Rede de Profissionais de Facilities), Síndico Profissional e Diretor executivo da AgereSíndico. [email protected]


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